Em menos de 12 anos, todos os novos carros vendidos na União Europeia serão veículos com zero emissões. Uma frase que resume meses e meses de intensas negociações nas principais instituições europeias e das quais fiz parte, com o principal propósito de reduzir as emissões de CO2 para a atmosfera e tentar travar a trajetória da emergência climática que vivemos.
É urgente atuar no sector dos transportes, que contribui com cerca de 25% das emissões totais da UE, sendo que as nossas estradas contribuem com 70% destas.
Números que explicam e justificam o porquê de a partir de 2035 todos os novos carros serem zero emissões. Considerando que a vida útil de um carro é de dez a 15 anos, a medida irá garantir uma renovação da atual frota para carros menos poluentes, que tornará possível em 2050 atingirmos a neutralidade climática – objetivo com o qual a UE se comprometeu como um todo na Lei Europeia do Clima.
Infelizmente, não pensamos todos da mesma forma. A direita, uma vez mais, mostrou total desprezo pelo Ambiente, pelas gerações atuais, que já sofrem de cancros causados pela poluição do ar, além de todos os impactos desastrosos das alterações climáticas; e pelas gerações futuras, que terão de receber o legado que deixamos neste planeta.
A prova são os votos contra o regulamento e a narrativa desinformada. E importa desmistificar alguns pontos abordados pelo PPE (com a conivência do PSD e CDS).
O passo histórico que demos apenas regula os carros novos, impondo certas metas intermédias que guiarão a indústria, até 2035, com o objetivo final de que a frota atual seja substituída por carros não poluentes.
A proposta representa um avanço em termos tecnológicos. Quer-se promover mais inovação, mais soluções tecnologicamente sustentáveis que representem uma melhoria da vida dos nossos cidadãos, sobretudo através da redução da poluição do ar.
E apesar de todos os esclarecimentos e clarificações, e da cláusula de revisão 2026, a direita, guiada por um eurodeputado alemão, votou alinhada aos interesses instalados da indústria, da sobrevivência dos carros a combustão interna e dos combustíveis sustentáveis, que são mais caros na sua produção e menos eficientes no uso de eletricidade quando comparados com o carregamento de carros elétricos. E importa referir a big picture, que a luta contra a emergência climática implica reduzir as emissões em todos os setores, e que esses combustíveis sustentáveis devem ser salvaguardados para outros setores que não podem recorrer à eletrificação total, como o setor marítimo e o da aviação.
A direita do PSD e do CDS mostrou mais uma vez esta semana todo o seu conservadorismo e toda a sua dualidade ideológica. A direita revelou não ter respeito por nós, nem pelas gerações futuras. Pensar no hoje e agora é uma visão estreita e a miopia de hoje será a cegueira amanhã.
O importante e necessário é ter alcance, foco e estratégia. Uma medida como a votada na semana passada no Parlamento Europeu terá um grande impacto em diversas vertentes.
A UE obrigatoriamente terá de investir nas necessárias infraestruturas de carregamento e nas matérias-primas para a transição e, não menos importante, nos trabalhadores do sector, na sua adaptação, formação e reconversão para empregos numa indústria que se quer sustentável.
O regulamento dá clareza à indústria e orienta a sua direção, tal como já está a ocorrer um pouco por todo o mundo.
É um pequeno passo na miríade de medidas que temos de tomar. O objetivo é que em 12 anos, com carros menos poluentes, respiremos ar mais limpo; e em 27 anos abrandemos o aquecimento do planeta. Esta não é uma luta só de alguns, é de todos!
Não há mesmo Planeta B e a nossa casa e todos os que nela vivem têm de ser protegidos.
Artigo de Opinião - PUBLICO 21/02/2023